sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Resumo: Microeconomia: uma abordagem moderna. 2012

Rheider Abe Marçal
rheiderline@gmail.com
2ECO134 – Microeconomia: aplicações, Estratégias e Táticas Ambientais


EXTERNALIDADES

Em um primeiro momento este capitulo vai abordar o conceito de externalidade de consumo e externalidade na produção, tanto negativas como positivas e em uma segunda parte como estas externalidades podem ser eliminadas ou socializadas, por meio de Pigou e Coase.
As externalidades podem ser divididas em dois tipos: externalidade de consumo e externalidade na produção.
A externalidade de consumo pode ser classificada como positiva ou negativa, assim podemos verificar uma externalidade de consumo quando o consumidor se preocupa com a produção de outro agente. Ou seja, quando um indivíduo X consome um determinado produto/bem e o mesmo gera uma externalidade/influência no comportamento do indivíduo Y podemos então classificar se isto é uma externalidade negativa ou positiva. Por exemplo se dois indivíduos X e Y frequentam o mesmo bar, no entanto X tem o hábito de fumar, e o indivíduo Y não é fumante, o consumo de cigarro por parte de X vai gerar uma externalidade negativa sobre a saúde de Y e a cliente lá do bar que compartilha do hábito de não fumar, fazendo o mesmo a reclamar ao dono do estabelecimento ou até mesmo deixar de frequentar este ambiente. Já uma externalidade positiva acontece quando um proprietário de um terreno X tem por hábito preservar a vegetação nativa, assim um indivíduo Y que more ao lado teria por consequência uma externalidade positiva para consumir uma melhor qualidade de ar por exemplo.
Já a externalidade de produção ocorre quando as escolhas de uma empresa X afeta a produção de uma empresa Y. Um exemplo de uma externalidade de produção negativa: a indústria X que produz chumbo e neste processo gera a poluição dos rios de uma empresa pesqueira Y, a poluição dos rios por chumbo vai causar diretamente uma diminuição da produção de peixes.
Uma externalidade de produção positiva: Uma clínica que realiza exames de sangue, raio-X e etc que se localiza ao lado de vários consultórios médicos, ambos teriam uma externalidade positiva, visto que ao paciente se dirigir para consumir um ou outro serviço, tanto o laboratório como o consultório se beneficiariam pela proximidade, visto que um serviço complementa o outro.
Nesse segundo momento o livro nos mostra que existe duas formas de eliminar as externalidades por meio de Soluções públicas (Pigou) e soluções privadas (Coase).
Nas soluções públicas (Pigou) o Governo intervém enquanto regulador, por exemplo para uma questão da poluição do ar, o governo pode fixar impostos ou multas pela emissão de poluentes e emitindo permissões de emissão.

Nas soluções privadas (Coase) pode haver uma negociação entre a empresa poluidora e a empresa/população afetada ou ainda recorrer aos tribunais.

Referências

VARIAN, H.R. Microeconomia: uma abordagem moderna. 8.ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012.

Resumo | Milton Santos - Economia Espacial: Críticas e Alternativas


Resumo

Livro: Economia Espacial: Críticas e AlternativasAutor: Milton Santos




Rheider Abe Marçal

Sobre o Autor:


Possui graduação em Direito pela Universidade Federal da Bahia(1948) e doutorado em Geografia Humana pela Universite de Strasbourg I(1958). Atualmente é Professor emérito da Universidade de São Paulo. Atuando principalmente nos seguintes temas:região, teoria, Geografia.

1. PLANEJANDO O SUBDESENVOLVIMENTO E A POBREZA

O uso do planejamento nos países considerados do Terceiro Mundo foi imprescindível, pois este é a causa do subdesenvolvimento dos mesmos. O planejamento capitalista é indispensável para a manutenção e ao agravamento do atraso dos países pobres.

O planejamento: Instrumento do Capital


Até 1930 a intervenção do Estado na economia era considerada prejudicial, no entanto com a crise de 1929 isto mudou. Agora com a crise a política do laissez-faire era necessária para garantir o bem estar e o crescimento rápido da economia.
Assim a função do planejamento é garantir dentro da lei e da ordem, um grau de segurança e de estabilidade das pessoas e da propriedade, é promover e estimular o investimento privado.
Desta forma usa-se da linguagem científica para embasar e justificar o uso do Tesouro Público para garantir a segurança e a confiança dos investimentos privados.
A serviço do planejamento a economia perde seu status científico e se torna uma ideologia, cujo fim é persuadir os Estados e as pessoas do que seria o desenvolvimento e como alcança-lo. A ideologia da sociedade de consumo às populações, a dependência e à dominação; à dominação através da dependência.
A fim de realizar com sucesso a dominação econômica através do planejamento, inventa-se o Terceiro Mundo. Fazendo com que as pessoas se esqueçam que vivem em um mundo de exploração e são convencidos de que estavam em um mundo subdesenvolvido.
A pobreza um fenômeno qualitativo, foi transformada num problema quantitativo, assim foram estabelecidos índices do que seria um país desenvolvido e que os países pobres deveriam alcançar para sair do subdesenvolvimento.
Os países subdesenvolvidos se veem necessitados a imitar todos os costumes, modelos econômicos, desde o capital e até os alimentos destes países desenvolvidos que só querem a dominação econômica.
O planejamento tem tido o papel de impor por toda parte o capital internacionalizado. Usando-se da "ostentação estatística", ou seja, índices que representam o desenvolvimento, os países ditos subdesenvolvidos deveriam adotar formas e modelos para alcançar estes índices estatísticos ditos do mundo desenvolvido.
De 1945-1950 inicio-se os grandes projetos de exibição de capital, mas para isso era necessário mostrar que os países subdesenvolvidos não tinham condições de acumular internamente este dinheiro para consolidar estas obras e para isso era necessário receber ajuda de capital privado estrangeiro. Foi assim que se caminhou para o endividamento ou dominação dos países subdesenvolvidos pelos empréstimos, e isso gerou uma distorção de toda a economia, uma vez que para pagar a dívida, riquezas minerais tiveram de ser alienadas e a agricultura teve de ser canalizada para a produção de exportação.

A Ciência do Espaço a Serviço do Capital

Ocorre uma divisão de trabalho entre as duas disciplinas: á economia é confiada ao capitalismo e a tarefa de disseminar o capital em vários espaços nacionais é confiada à ciência regional.
O desenvolvimento regional é o resultado de  um processo de investimento, por outro lado, "o caráter aberto da economia regional sugere que boa parte de seu crescimento é moldada por forças externas.
Ou seja, os impulsos de crescimento em economias regionais provêm de fora, sob a forma de demandas por especialidades regionais.
E assim uma vez que estes países subdesenvolvidos carecem de capital nacional, estes se veem necessitados a aceitar o capital estrangeiro.
A ciência regional e o planejamento eventualmente se fundiram, formando o planejamento regional.
Com o planejamento regional os recursos sociais tendem a se concentrar em certos locais onde a produtividade do capital é cada vez mais alta, a atração da força de trabalho, e os salários mais baixos são um fator adicional para aumentar os lucros/mais-valia do grande capital. É por isso que acontece a concentração cumulativa de investimentos e de população nas mesmas cidades. A tendência à especialização agrícola se acompanha  da expansão do número de assalariados, da extrema divisão social do trabalho e da concentração econômica e espacial. A urbanização se apresenta como necessidade do sistema, ou seja,  resultado e uma condição do processo de difusão do capital.
A ideia de criar centros satélites próximos às grandes concentrações, apenas reflete o desejo de promover a entrada e a permanência do grande capital. Apenas estão sob o disfarce de promotoras do crescimento, elas não tem outra função além de coletar o excedente e enviá-lo para cidades maiores e para o estrangeiro.

O Planejamento Hoje: Do uso da Força ao Estratagema

Podemos dividir em três fases a penetração do capital com vistas a acumulação nos países ditos do Terceiro Mundo.
A primeira fase foi através da força com a colonização, como exemplo: Na Índia a Inglaterra destruiu manufaturas de algodão para monopolizar a matéria prima e a produção de tecidos de baixo custo que ali impôs subsequentemente.
A segunda fase é marcada pelo desenvolvimento de monopólios na sua forma transnacional, sendo tanto uma consequencia como uma causa do aumento da concentração de capital. A revolução tecnológica aparece como essencial, o sistema tira daí modos de aumentar a acumulação, graças aos progressos na difusão de ideias, encontra os meios de impor novas ideias dominantes.
A terceira fase dever-se-á dar aos pobres a impressão, e não somente a esperança, de que estão emergindo da pobreza. Eles passarão portante a testemunhar um aumento em termos absolutos de sua renda, isto é, de seu consumo de bens e serviços. Conduzindo a pobreza planejada, pois o capital não vai abrir mão das suas taxas de acumulação.


2.DIFUSÃO DE INOVAÇÕES OU ESTRATÉGIA DE VENDAS?


3.A PERIFERIA ESTÁ NO PÓLO: O CASO DE LIMA, PERU


4.UMA REVISÃO DA TEORIA DOS LUGARES CENTRAIS

5. ESPAÇO E DOMINAÇÃO: UMA ABORDAGEM MARXISTA

Milton Santos em Espaço e Dominação trata acerca da modificação do espaço dentro do sistema capitalista, o que ocorre é alteração de "espaço local" para "espaço globalizado" que é a readequação imposta pela globalização.
Essa intensificação do capital cria novos espaços modernizados e altera os espaços já existentes, para a entrada da economia global nas regiões ou espaços agrícolas, é necessária a modificação dos lugares para que possam atender as demandas exigidas para a sua instalação como: a criação da mão de obra, infraestrutura etc.
Além dessas modificações espaciais, a adesão do capital globalizado altera as relações existentes e cria uma adequação de mercado aos espaços que utilizarão o capital global como desenvolvimento.
Neste contexto, Milton exemplifica que para o crescimento do capital nestas regiões há uma valorização do excedente global e o enriquecimento das empresas multinacionais que atuam em ordem global.
Por outro lado é observável que o crescimento monetário desse capital não chega de forma igual a todos os setores, chegando de maneira mais abrangente aos grandes possuidores do capital, desfavorecendo alguns setores, o capital desenvolve-se de forma gradual nessas regiões agrícolas fenômeno que provoca a valorização desses lugares.
O capitalismo se instala de forma rápida e traz á tona á competição econômica para os setores agroindustriais, por isso torna necessária a reestruturação das relações cidade e campo e adesão ao capital global.
A globalização cria redes de transmissão do capital no mundo interligadas entre si, o que possibilita o aumento do acesso da comunicação e das novas tecnologias novos centros agroindústrias.
Os novos núcleos urbanos do desenvolvimento, ou seja, cidades maiores, pelo seu avanço e crescimento atrasam as cidades de menor porte ao seu entorno.
Apesar de todo o desenvolvimento e avanço tecnológico advindo com o capitalismo globalizado, gerou por outro lado desigualdades sociais e a exploração, trazendo assim como consequência: desemprego e pobreza nas cidades.
 A exploração do capital nas grandes cidades, por meio das grandes industriais que exigem dos comerciantes sua adaptação ao que é dito pelo capital, há existência da exploração trabalhal de operários nos centros fabris, visado pelo aumento da produtividade e posteriormente de lucro dos grandes proprietários.
Segundo Milton Santos, a nação não funcionaria exatamente como um núcleo totalmente integrado, ou seja, o capital não atua neste espaço de maneira igualitária o que provoca neste contexto relações de dominação entre centro urbano e centro rural.
A mais valia se aplica no espaço, da maneira em que o capital global utiliza da capacidade de reestruturação do espaço, motivando e reorganizado esses espaços para que atendam as demandas necessárias para sua introdução, criando um desenvolvimento, posteriormente gerando lucro e produtividade.
É necessário um aumento da complexidade dessas atividades, para que possa existir um aumento da reprodução do excedente local.
O estado é arrecadador de parte dessa renda produzida durante essas atividades pelo capital, tendo como função a imposição de impostos para que posteriormente redistribuísse parte do arrecadado com a renda em forma de infraestrutura nos municípios.
Possui o capital possibilidade de modificação do valor local, pela a realização das forças produtivas existentes.
O objetivo desse estudo segundo define Milton é que o excedente seja decidido pela sociedade para que dessa maneira atenta as necessidades da população local, é possível compreender sua preocupação pelo fato do  seu interesse em defender que cada região possui suas próprias particularidades e demandas.
É necessário pensar o espaço, pois este espaço é gerador das relações tanto sociais quanto econômicas, muitos autores se fixaram nessa temática, cada qual da sua maneira.
Ao longo do texto é observável que o capital tem como tarefa acumulação e sua redistribuição, sendo essa redistribuição movida por grandes contrastes, sendo de uma forma geradora de riqueza, desenvolvem de outra maneira desigualdades entre as camadas populares mais carentes.


6.PÓLOS DE CRESCIMENTO ECONÔMICO E JUSTIÇA SOCIAL
Friedmann (1963, 1966), foi o primeiro a sugerir que o conceito de pólos de crescimento tinha uma base geográfica. A teoria dos pólos de crescimento tem se preocupado com o espaço de alguns poucos e não com o espaço de todos. 
A aplicação da teoria dos pólos de desenvolvimento levanta a questão de se o espaço pode ser descrito tanto nos países desenvolvidos e subdesenvolvidos.
Embora os componentes do espaço sejam universais e formem um continuo através do tempo, eles variam quantitativa e qualitativamente através do espaço.
O espaço nos países subdesenvolvidos se caracteriza por enormes desigualdades de renda, que são expressas no nível regional por uma tendência à hierarquização das atividades, no nível local, pela coexistência de atividades similares, mas que funcionam em diferentes níveis. As disparidades de renda são muito menos chocantes nos países desenvolvidos e tem muito pouca influência sobre o acesso a um grande número de bens e serviços. Em contraste, nos países subdesenvolvidos, as possibilidades de consumo variam grandemente. O nível de renda de cada um é função de sua localização espacial, a qual, por sua vez, determina a possibilidade de produzir e de consumir de cada um.
As atividades do circuito superior são responsáveis pela macroorganização do espaço, enquanto a organização espacial em nível local se divide entre os circuitos inferior e superior. POrtanto, é neste nível que tem lugar a troca entre os dois circuitos.
Assim a teoria dos pólos de crescimento leva em conta apenas o circuito superior, pois acredita-se que somente ele gere a modernização, através das indústrias de ponta.
No entanto o autor vai discordar destas ideias ao tempo que estas  indústrias podem lucrar e não produzir nenhum efeito disseminador importante, ou seja, ela pode se beneficiar de uma economia de aglomeração na cidade e não exercer nenhum efeito multiplicador em troca ao local.
 O autor traz uma situação que poderia resolver este problema, que seria o caso de diminuir a distância tecnológica entre os circuitos superiores e inferiores. Uma vez que o circuito inferior desempenha um papel regulador entre a economia moderna e as massas empobrecidas que emprega, ele age como um meio de transmissão para estes trabalhadores populares que ascendem para o circuito superior através de diversos meios.  Assim o circuito inferior se tornaria menos inferior e as massas fortaleceriam as cidades e estas desempenhariam um verdadeiro papel regional, e com este poder controlador regional produziria numerosos efeitos multiplicadores sociais e econômicos. E reorganizaria todo o espaço criando vários pólos de crescimento em vez de um único.

7. A TOTALIDADE DO DIABO: COMO AS FORMAS GEOGRÁFICAS DIFUNDEM O CAPITAL E MUDAM AS ESTRUTURAS SOCIAIS

Na atualidade formas transferidas de uma formação socioeconômica para outra podem comportar a força de modificar está última.
As formas foram usadas no passado para ajudar na transformação da estrutura social tanto no campo como na cidade. Ex: o movimento dos enclosures (cercamento de terras) no século XVIII na Inglaterra,  ou também em Paris a reconstrução da rue de rivoli, no século XIX, foi feita para separar as classes sociais.

A revolução verde traz ao rural programas oficiais que garantem empréstimos a pequenos proprietários de terra para a compra de sementes, fertilizantes, equipamentos etc, e encorajam a comercialização e a administração moderna. Obviamente qualquer alteração na técnica na agriculta é seguida por uma modificação na propriedade da terra que é, ela própria, uma forma.

O mesmo mecanismo se aplica nas cidades, através da ação do planejamento urbano que muita s vezes constitui uma fachada científica para operações capitalistas. Como por exemplo a construção de projetos de arranha-céu e de obras públicas de grande escala, que implicam em um grande investimento nas cidades. Assim essas atividades construtivas, ao mesmo tempo que implicam na importação de equipamentos, matéria prima e capital, aprofundando a necessidade nestas áreas, elas desencaminham investimentos necessários a outras atividades urbanas na própria cidade ou em outros locais.
 
As formas se tornaram instrumentos ideais para promover a introdução do capital tecnológico estrangeiro numa economia subdesenvolvida e para ajudar o processo de superacumulação, cuja contrapartida é a superexploração. Aqueles países em que isto ocorre têm sua economia distorcida, suas tradições sacrificadas e suas populações empobrecidas.
As formas servem ao modo de produção dominante em vez de servir à formação socioeconômica local e às suas necessidades especificas.


Referências


SANTOS, M. A. . Economia Espacial: Criticas e Alternativas.. São Paulo: Hucitec, 1978.

sábado, 8 de agosto de 2015

Tutorial - SPRING 5.3 - Como realizar o contraste no SPRING 5.3

Este é o primeiro tutorial que estou criando, como parte de uma atividade de uma disciplina do curso de Geografia.
Isto me motivou e pretendo continuar a lançar mais tutoriais como este, não apenas do SPRING mas também irei postar tutorias de outros softwares como o QGIS, ARCGIS e o ENVI.

Espero boas críticas sobre o meu primeiro vídeo para melhorar futuramente.
Segue o link abaixo.


https://www.youtube.com/watch?v=9khLWZnPxOI

Link para download em PDF:

https://drive.google.com/file/d/0B_BuzTusLr9FVFJINGtsU2c1bmM/view?usp=sharing

sexta-feira, 20 de março de 2015

Resenha | Filosofia da Ciência - Introdução ao jogo e suas regras

Rubem Alves - Capítulo  1 O senso comum e a ciência



Rheider Abe Marçal

Resenha

  
“A ciência nada mais é que o senso comum refinado e
disciplinado.”
G. Myrdal


O cientista se tornou a classe que a sociedade escolheu para ser responsável para pensar, ou seja, desobrigando todas as outras desta tarefa, assim as pessoas tendem a acreditar em tudo que os cientistas dizem como verdade absoluta, apenas acatando as suas ordens sem saber o motivo.
E por isso precisamos começar a pensar e acabar com este mito que apenas os cientistas estão corretos, e que estes pensam melhor que os outros. Cientistas nada mais são que pessoas especializadas em uma determinada área da ciência, ou seja, cada vez mais sabemos mais de cada vez menos. Em outras palavras cada cientista abre mão do todo, para entender o particular, assim abdicando da habilidade de relacionar os fatores de todas as ciências.
A aprendizagem passa por um desenvolvimento do conhecimento pré-existente do senso comum, que nada mais é que uma expressão utilizada e inventada pelos cientistas para determinar uma classe de pessoas que dominam um conhecimento abaixo da “verdade” ou conhecimento científico. Resumindo o senso comum é um conhecimento não sistematizado, sem necessidade de ser comprovado através de uma metodologia bem definida e através de experiências do real.

quinta-feira, 14 de março de 2013

Resenha - O Ofício, a oficina e a profissão: reflexões sobre o lugar social do professor


Rheider Abe Marçal

Resenha

SOUSA NETO, M. F. . O Ofício, a oficina e a profissão: reflexões sobre o lugar social do professor. Cadernos do CEDES (UNICAMP), Campinas, SP, p. 249-259, 2005.

           
            Informações sobre o autor

Possui graduação em Licenciatura em Geografia pela Universidade Federal do Ceará (1992), graduação em Bacharelado em Geografia pela Universidade Federal do Ceará (1993), mestrado em Geografia (Geografia Humana) pela Universidade de São Paulo (1997) e doutorado em Geografia (Geografia Humana) pela Universidade de São Paulo (2004). Atualmente é professor doutor do Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo. Tem experiência na área de Geografia, com ênfase em História do Pensamento Geográfico, atuando principalmente nos seguintes temas: geografia, educação, políticas públicas, história da geografia e geografia política. (Em:. Acesso em: 12 março 2013.)

Discussão crítica do texto

O autor divide o texto em seis partes, primeiro ele começa falando sobre o que viria ser um oficio, e como isso se interage com as pessoas e o espaço ao seu redor, dizendo que a oficina seria um templo onde seriam realizados os rituais de um dado ofício, e essa realização de dado oficio cria uma identidade entre os indivíduos participantes e os objetos envolvidos, as ferramentas que estes manuseiam e os processos com os quais interagem. E também cria uma identidade entre os indivíduos que realizam o mesmo ritual, ou seja, que realizam o mesmo ofício e se situam no ambiente da mesma oficina.
Em um segundo momento o autor ressalta a diversidade de ofícios e como eles tem influência e um papel na sociedade, porque precisamos nos comunicar, comer e sorrir. E está ligação da sociedade e que cada ofício complementa a necessidade de outro individuo, e que ao desempenhar um dado oficio em uma determinada sociedade, o individuo adquire uma determinada identidade. Toda profissão necessita de um lugar para realizar-se e esse lugar é a oficina, e que ao decorrer dos séculos se modifica cotidianamente.
Na terceira parte do texto o autor começa dizendo que para um determinado oficio existir ele precisa de um lugar que lhes identifique, entretanto para que esses lugares existam e essa profissão possa ser reconhecida como necessárias, elas devem ter um lugar social. Em outras palavras a sociedade precisa reconhecer este ofício, o considerar importante, reconhecer nele um valor, e fazer dele algo necessário.
No quarto ponto do texto o autor ressalta a importância do ofício professor para a sociedade, e a importância da escola que é nossa oficina de trabalho, que é através desse oficio e oficina que ajudou a formar toda a sociedade que está viva, desde o faxineiro ao astronauta, todos passaram pela escola e pelo professor. Assim sendo os profissionais da educação tem uma grande influência sobre o destino que a nossa sociedade tomou e toma.
O quinto tópico do texto trata sobre a insatisfação gerada ou proporcionada segundo ele em relação aos baixos salários dos professores o que segundo o autor acarretaria com que ele desempenha-se o seu papel como profissional de uma forma descomprometida com a formação de seus alunos, pois, os salários baixos indicariam que a sociedade não dá valor à profissão, ou seja, é algo desqualificado, pois não tem um alto valor agregado na profissão em relação aos salários.
E por fim o autor fecha a ideia falando que ao escolhermos um oficio nos passamos a ser feitos por ele, ou seja, eu passo a ser o professor Fulano, não apenas mais o Fulano, e isto implicará que o seu oficio vai estar contido em uma totalidade de ofícios e dentro de uma sociedade que o julgará e verá através de sua profissão.
Assim sendo você será avaliado de acordo com o seu oficio, e o valor do seu oficio é obtido através da necessidade da sociedade e quanto este oficio lhe pagará, e isto vai refletir proporcionalmente em sua autoestima como profissional, em seu desempenho, e como você será visto dentro de uma sociedade capitalista e consumista que julga as pessoas não por desempenhar bem o seu papel, mas sim pelo valor do seu salário, que indicará o seu poder de consumo. E as pessoas que se deixarem levar para o material não vão viver uma vida de prazer e felicidade, porém aqueles que exercerem o seu oficio com orgulho, por prazer, alegria e felicidade, estes serão os melhores remunerados dentre todos os outros da sociedade, não em forma de bens materiais, mas sim em forma de auto realização.

Referências

CNPq. Currículo Lattes. Disponível em: . Acesso em: 12 Mar 2013.

PROGRAMA VILAS RURAIS: UM ESTUDO DE CASO, VILA RURAL OCTÁVIO DE CAMPOS LIMA- TAMARANA- PARANÁ


PROGRAMA VILAS RURAIS: UM ESTUDO DE CASO, VILA RURAL
OCTÁVIO DE CAMPOS LIMA- TAMARANA- PARANÁ

Cássia Marques da Rocha
Acadêmica em Geografia-UEL
Bolsista do Programa de Educação Tutorial – PET
cassiamarques.geo@gmail.com

Rheider Abe Marçal
Acadêmico em Geografia – UEL
Voluntário do Programa de Educação Tutorial – PET

Orientação: Rosely Maria de Lima
Prof.ª do Departamento de Geociências - UEL

INTRODUÇÃO

A partir de 1970, o processo de modernização no Brasil viu no campo um novo meio

para sua efetivação, provocando a aglutinação de terras e o êxodo rural que atingiu

milhares de pessoas, o que propiciou o crescimento de trabalhadores volantes. Neste

contexto, entre 1995 e 2002, na gestão do ex-governador Jaime Lerner, foi desenvolvido

no Paraná o Programa Gestão Pública e Cidadania: Projeto Vilas Rurais. Este projeto de

implantação de Vilas Rurais objetivava conter o fluxo migratório dos trabalhadores

volantes. Este artigo é fruto de trabalho de campo realizado no município de

Tamarana/PR, em junho de 2011, pelos acadêmicos de Geografia da Universidade

Estadual de Londrina, mais especificadamente na Vila Rural Octávio de Campos Lima.

OBJETIVO

Este artigo busca analisar o Projeto Vilas Rurais no Estado do Paraná dentro do

contexto histórico do Brasil que acarretou sua necessidade. O estudo de caso da Vila

Rural Octávio de Campos Lima objetiva expor como correu sua implantação e qual a

atual condição de vida dos moradores. Deste modo procurou-se analisar os critérios

utilizados para obtenção dos lotes, as reais condições de sobrevivência dos moradores,

as relações de trabalho e de produção no local e, também se as famílias recebem algum

tipo de benefício das esferas administrativas estaduais.

METODOLOGIA

O presente artigo tem o estudo de caso como instrumento investigativo, partindo de um

trabalho de campo e pesquisas de gabinete. Como afirma Ventura (2007), o estudo de

caso como modalidade de pesquisa é entendido como uma metodologia ou uma escolha

de um objeto de estudo definido em casos individuais. Portanto, visa à investigação de

um caso específico, bem delimitado, contextualizado no tempo e lugar para a realização

de uma busca circunstanciada de informações. Adotou-se, neste trabalho, como base

teórica os autores José de Souza Martins e Ariovaldo Umbelino de Oliveira.

QUADRO TEÓRICO

Diante das transformações políticas, econômicas e sociais que ocorreram no Brasil, na

década de 1970, a estrutura agrária não se manteve impar, invicta a estas mudanças. O

processo de avanço industrial, visando a expansão do capital, alterou a estrutura rural,

consequentemente, afetou a vida de milhões de brasileiros que sobreviviam neste meio.

Visto como um meio atrasado, a modernização do campo proporcionou mudanças no

setor rural brasileiro, como apresenta Muller (apud BANA, 2001, p.5), “a modernização

é o resultado da interação entre industrialização do campo, agroindustrialização das

atividades agrárias e mudanças sociais e políticas entre os grupos sociais.”

Segundo Bana (2001), a estrutura fundiária, até início dos anos 1970, tinha como

tendência o incremento no número de pequenos estabelecimentos, mas este se inverteu,

havendo uma tendência à concentração da terra em propriedades cada vez maiores.

Ocorreram outras mudanças: mecanização no campo para aumento da produtividade e

rentabilidade e apoio do crédito subsidiado para obtenção de equipamentos.

A agricultura que era desenvolvia, principalmente, em pequenas e médias propriedades,

com mão de obra familiar, muitas vezes para a subsistência, começou a sofrer atuação

do capital, por intermédio da industrialização, resultando na mudança do mercado.

Assim, estas alterações ocorridas na estrutura agrária no Brasil atingiram o Paraná

aonde o cultivo do café era o “carro chefe” da economia estadual, deu lugar a inserção

de novas culturas como a soja e o trigo. Estes possuíam preço atrativo no mercado

externo, atendia a necessidade da utilização de máquinas em seu processo produtivo,

além de fatores climáticos, em especial as geadas de 1962 e de 1975 que atingiram os

cafezais, proporcionando desta forma o “casamento” entre a indústria e a agricultura.

Em suma, como ação gera reação, o apoio ao crédito favoreceu, em grande parte, os

produtores que já possuíam capitais, que puderam ampliar suas terras, favorecendo o a

concentração fundiária, necessária para a aquisição de tratores, colheitadeiras para

cultivo intensivo da soja. Esta ação teve como reação o desemprego de milhares de

trabalhadores rurais, a expropriação das pequenas propriedades, que não tinham como

competir com os grandes produtores capitalistas. Assim, com a expansão do capitalismo

no campo, quem antes era trabalhador autônomo, dependente do trabalho de si mesmo e

de sua família, foi expulso da terra e transformou-se em massa de trabalhadores rurais

sem terra, livres para vender sua força de trabalho. (MARTINS, 1995)

Esta massa de mão de obra, ao se deparar com o desemprego, buscou a alternativa de

trabalhar por temporada, nas safras, como mão-de-obra volante.

A diminuição do emprego faz surgir uma nova categoria de
trabalhadores agrícolas no Paraná: são os volantes que se deslocam
segundo as necessidades de estação, sem local fixo de moradia, nem
contrato de trabalho, são também os bóias-frias, trabalhadores
agrícolas que vivem na periferia das cidades e que trabalham por
tarefa. (BANA, 2001, p. 7)

Frente à realidade que lhes foi imposta, o êxodo-rural, mostrou a face cruel das cidades,

onde a pobreza e a marginalidade são quase que certas para os recém chegados. Uma

parcela destes dispusera-se a vender sua força de trabalho em indústrias que não

exigiam na maioria das vezes qualificação; outros foram trabalhar na construção civil;

outros mais desiludidos viram na migração para outros estados como São Paulo e Mato

Grosso do Sul, ou até mesmo para o Paraguai, uma esperança de emprego.

Como afirma Bana (2001), durante a década de 1980, cidades como Curitiba, Londrina

e Maringá, sofreram pressão por equipamentos urbanos e saneamento básico exercida

pela migração em massa do rural para o urbano. Em decorrência surgiu e se fortaleceu

no Paraná o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) que buscam reivindicar o

retorno ao campo, mediante a implantação da Reforma Agrária.

IMPLANTAÇÃO DO PROJETO VILAS RURAIS

Todo este contexto de exclusão da população oriunda do campo, só foi ter um plano de

política pública estadual para contenção do processo em meados da década de 1990. O

Programa Vilas Rurais no Paraná surge como alternativa de projeto social para intervir

na condição de vida de milhares de trabalhadores paranaenses, que estavam a viver em

condições precárias nas periferias das principais cidades do estado.

É impossível dissociar os problemas urbanos da questão do campo,
assim como é necessário atuar simultaneamente sobre os efeitos e as
causas do processo migratório. A Vila Rural poderá ser um exemplo
em que assentamentos humanos estarão associados a atividades

econômicas, visando assegurar terra, trabalho e bem-estar à
comunidade. (LERNER, 1996 apud BANA, 2001)

Já existiam duas experiências anteriores, bem sucedidas, de cunho local, para minimizar

o fluxo de migração do campo para a cidade. Em 1979 foram implantadas duas Vilas

Rurais, uma no município de Curitiba, através do Projeto Rurbanas, e uma no município

de Terra Boa através do Projeto Agrovilas. (BANA, 2001, p.59)

Assim, o Programa Vilas Rurais foi implantado no Paraná entre 1995 e 2002, propondo

o retorno do homem ao campo, para minimizar as condições de vida dos contingentes

populacionais que viviam nas periferias das cidades do Estado do Paraná. O Programa

foi implantado por meio da parceria entre as Secretárias de Estado do Paraná e as

prefeituras municipais, buscando assentar 20.000 famílias de trabalhadores volantes

(bóias-frias), garantindo-lhes moradia e terra.

As Vilas Rurais foram implantadas próximas a equipamentos já existentes para evitar

novos gastos, como escola, posto de saúde, rede elétrica. Assim, contariam com infra-

estrutura básica de água, energia elétrica e sistema sanitário, para que os trabalhadores

volantes retornassem ao campo com uma melhor qualidade de vida como, moradia,

alimentação, ou seja, condições viáveis para o retorno e fixação do homem no campo.

Cada vila tem no máximo 100 unidades. As casas são construídas com
44,5 m², permitindo-se ao mutuário ampliá-la. O futuro morador pode
também escolher o material a ser utilizado e a forma da divisão interna
da casa. Os lotes, com área entre 5.000 e 6.000 m², permitem a
produção agrícola. (REIS, 1998, p. 4)

A escolha das famílias era realizada por técnicos das secretarias que coordenavam o

programa seguindo critérios preestabelecidos. Para isso, eram realizadas visitas ao local

de moradia, análise das condições de vida das famílias e a aptidão para o trabalho no

campo, seguido por reuniões para formação de associação de moradores. O pagamento

dos lotes seria por mensalidades, sendo que as trinta primeiras teriam dedução da

metade do valor, o que na época correspondia a 20,00 reias. Após esta fase, seria

efetuado o termo de compromisso de compra e venda, sendo que o lote seria quitado em

15 anos. (REIS, 1998)

Segundo Bana (2001, p.63), a prefeitura municipal deveria manifestar disposição para

construção da Vila, além disso, doar o terreno e constituir uma comissão municipal com

representantes do governo local e da comunidade local organizada. Esta comissão teria

de atuar em conjunto com a Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento

(SEAB), Secretaria Especial da Política Habitacional e a Secretaria de Estado da

Criança e Assuntos da Família. Segundo Reis (1998), outras entidades participaram do

Projeto: Empresa Paranaense de Assistência Técnica e de Extensão Rural (EMATER),

Companhia de Habitação do Paraná (COHAPAR), Saneamento do Estado do Paraná

(SANEPAR), Secretaria de Saúde do Estado do Paraná, Secretaria de Educação do

Estado do Paraná, Secretaria de Estado do Emprego e das Relações de Trabalho.

Após o sorteio dos lotes, cada proprietário se responsabilizava pela escolha dos

materiais e construção da residência. Ao final da construção prestaria conta aos técnicos

responsáveis. (BANA, 2001)

A Comissão Municipal e os técnicos das secretarias desenvolviam levantamento das

necessidades dos vileiros para posterior planejamento das atividades agropecuárias

(assistência técnica e extensão rural, agroindústrias e comercialização) e projetos

socioeconômicos. (REIS, 1998).

HISTÓRIA E CARACTERÍSTICAS GERAIS DO MUNICÍPIO DE TAMARANA

O município de Tamarana, segundo o IBGE, localiza-se na Mesorregião Geográfica

Norte Central do Paraná, também compõe a Região Metropolitana de Londrina. Esta

Região Metropolitana composta pelos Municípios de Londrina, Cambé, Rolândia,

Ibiporã, Sertanópolis, Bela Vista do Paraíso, Jataizinho e Tamarana, totalizando

801.756 habitantes, de acordo com o Censo 2010 do IBGE (mapa 1). Segundo o

IPARDES, o município de Tamarana ocupa uma área territorial de 469,401 km², está a

uma distância de 58,0 km de Londrina e 336,67 km de Curitiba.

MAPA 1- Localização do Município de Tamarana- Pr

FONTE: IBGE < http://www.ibge.gov.br/cidadesat/painel/painel.php?codmun=412667#>

Tamarana desmembrou-se do município de Londrina sendo instalado como município

em dezembro de 1995. Porém, sua ocupação se deu na década de 1920 com a chegada

dos primeiros “safristas” que constituíram um povoado com o nome de São Roque.

Segundo o IBGE, em 1927 diversas famílias já estavam instaladas, estas plantavam

milho para a engorda de suínos que eram levados a pé para Ponta Grossa, Barra Bonita,

e até Fartura no estado de São Paulo, destinados a indústria de banha e derivados.

O povoado foi elevado a Distrito de São Roque, pela lei estadual nº 2.713, de 20-03-

1930, subordinado ao município de Tibagi. Em 1938, por meio do Decreto Estadual nº

7573, de 20-10-1938, o distrito de São Roque foi transferido do município de Tibagi

para o de Londrina. Em 1943 foi alterado o nome para Tamarana. Elevado a município,

desmembrou-se do município de Londrina pela Lei Estadual nº11224, de 13-12-1995.

Conforme o Censo Demográfico de 2010, do IBGE, sua população estimada é de

12.458 habitantes, sendo que 6.404 residentes na área rural (52,23%) e 5.858 na área

urbana (47,77%). A população economicamente ativa é de 45 %, desenvolvem

principalmente atividades de agricultura, pecuária, silvicultura, exploração florestal e

pesca, sendo que a principal atividade econômica é a agropecuária.

Tamarana é um município essencialmente rural, é também o município que mais possui

Assentamentos rurais na região Norte do Paraná, tendo 17 assentamentos rurais: oito

implantados pelo Banco da Terra, oito pelo Instituto Nacional de Colonização e

Reforma Agrária (INCRA) e um pelo Estado do Paraná, além das duas Vilas Rurais que

abrigam 87 famílias, o município conta também com a Reserva Indígena Apucaraninha.

Uma das explicações encontradas para este expressivo número de assentamentos

decorre de um fator natural, a fertilidade do solo. Segundo Tsukamoto (2009), os

municípios de Tamarana e São Jerônimo da Serra apresentam maior número de

assentamentos, com relevos acidentados e solos de pouca fertilidade. Por conseguinte, a

viabilidade de desenvolver atividades que demandam mecanização torna-se difícil.

Assim pode-se verificar que o trabalho executado pelos “bóias-frias” é de grande

importância nas propriedades, resultando na economia do município.

VILA RURAL OCTÁVIO DE CAMPOS LIMA

A Vila Rural Octávio de Campos Lima foi instituída pela Lei Municipal nº 166 de

14/08/2001 através do Programa Vilas Rurais e parceria com a Prefeitura de Tamarana,

conta atualmente com 49 famílias fixadas. Esta Vila leva o nome de um pioneiro do

município, era um comerciante, ex-vereador, que chegou ao local por volta de 1936.

Os lotes distribuídos nesta Vila são de 5000 m² (1/2 hectare), compostos pela residência

de 44,5m² aproximadamente e área destinada à produção agrícola, seja de alimentos

para a subsistência, como a criação de galinhas, suínos, cultivo de pomar, café, milho,

mandioca, hortaliças, e também produtos para a venda, com destaque para o café.

Assim, devido ao tamanho dos lotes é possível compreender o modo de produção

existente, predominando o trabalho familiar que utiliza ferramentas de pequeno porte,

como enxadas, foices, características de uma agricultura simples.

Em entrevista, realizada em 2011, a senhora Iraci de Fátima Alcântara, presidente da

Associação dos Moradores, residente no local há sete anos, informou sobre os critérios

utilizados para a seleção dos proprietários dos lotes na Vila. Estes foram: ser cadastrado

na prefeitura; ter experiência com agricultura; ser de origem rural; ser residente no

município; além de possuir laços afetivos com os outros morados ali existentes;

posteriormente ser aprovado pelos habitantes da Vila e aprovação da COHAPAR. O

produtor contemplado com lote deve residir efetivamente no local, ter boa convivência

com os vizinhos e utilizar a terra para o cultivo de alimentos.

A população local é composta por diferentes faixas etárias, com predomínio de adultos

com mais de 30 anos, sendo que muitos são semianalfabetos. Através de entrevistas

realizadas com as famílias, constatou-se que parte dos moradores trabalha nas indústrias

do município, em especial na metalúrgica. Outros trabalham nas propriedades próximas

como “bóias-frias” e alguns condutores de tratores. No caso das mulheres, muitas

cuidam da lavoura na própria propriedade e quando necessário buscam trabalho de

diarista, na área central de Tamarana, ou mesmo em outras casas na Vila.

Nos lotes da Vila predomina a produção de subsistência, familiar e não assalariada.

Neste caso, plantam para consumo próprio hortaliças, feijão, mandioca, milho, laranja,

mexerica, banana, sendo que o excedente é vendido entre os moradores. Este modo de

trabalho é visto por Oliveira (2007) como trabalho camponês, quando parcela da

produção entra para o consumo direto do produtor e o excedente é transformado em

mercadoria e comercializado. Já o cultivo de café é comercializado com a comunidade

externa, assim como os suínos e galináceos.

A presidente da Vila, em sua entrevista, expôs as dificuldades que os “vileiros”

enfrentam com a falta de auxílio de técnicos de órgãos públicos e de acesso aos insumos

agrícolas, lembrando que os solos desta localidade são de baixa fertilidade natural.

Sobre a infraestrutura, a Vila possui características típicas de um espaço rural, ruas sem

pavimentação, salão comunitário, capela, o limite dos lotes se dá por cerca de arame de

aço liso, cercas de madeira, algumas casas possuem portões, todas as residências são de

alvenaria. A maioria dos moradores possui televisão por meio de antenas parabólicas.

Por ser uma Vila pequena, possui três ruas principais, os lotes e os quarteirões são

denominados por números. Os habitantes contam apenas com energia elétrica, a água

utilizada é oriunda de poço artesiano, mas não há saneamento básico, utilizam fossas

sépticas. Quanto aos tributos, os moradores pagam o IPTU (Imposto sobre a

Propriedade predial e Territorial Urbana) de R$ 38,00 por ano, além da mensalidade do

financiamento dos lotes, durante 30 anos em média.

Vale destacar que reforma e ampliação de residência é livre. A venda dos lotes não é

permitida, ocorre esporadicamente, sendo que o novo morador em potencial tem que ser

conhecido pelos habitantes e aprovado sua permanência no local, pelos mesmos.

Entre as dificuldades apontadas pelos moradores, a respeito da vivência na área rural,

destaca-se o deslocamento, pois a prefeitura oferta apenas o transporte escolar para

crianças e adolescentes, porém nos dias de precipitações intensas este transporte fica

comprometido, já o restante da população depende do transporte privado. Os problemas

na área da saúde, também merecem destaque, pois a Unidade Básica de Saúde (UBS)

mais próxima encontra-se na sede do município, e o sistema de atendimento é precário.

Observamos que os moradores de mais idade, não apontaram desvantagens em

habitarem a Vila Rural, considerando que boa parte destes sempre residiu no meio rural.

Em suma os “vileiros” disseram estar satisfeitos com a vida no local, principalmente

pela boa convivência entre os moradores.

O PROGRAMA VILAS RURAIS APÓS QUINZE ANOS DE IMPLANTAÇÃO

Segundo Cavalcanti (2009), o Programa foi uma forma planejada de assentamento que

pretendia frear a migração do trabalhador sem terra, no Paraná. As Vilas abrigam

“bóias-frias” que podem ser mais facilmente contratados pelos empregadores rurais,

além de ter devolvido aos expropriados o título de proprietário de um pedaço de terra.

Portanto, o Estado não manteve os trabalhadores no campo apenas para proporcionar

melhorias na qualidade de vida dos mesmos, mas também para conter os movimentos

sociais no campo e aglomerar mão de obra barata para os grandes produtores da região,

visto que, “só o trabalho cria valor, cria riqueza.” (MARTINS, 1995, p.154). Sendo

assim a população da Vila deixa de ser caracterizada como rural, pois de acordo com

Santos (apud ASARI e PONTE, 2001), a “população rural corresponde aos que residem

e vivem diretamente do trabalho no campo”.

De forma que,

O sentido do programa Vila Rural condensa significados antagônicos:
se, pôr um lado, beneficia os deserdados do progresso econômico; por
outro, resolve a deficiência de mão-de-obra no campo paranaense.
Neste sentido, a ambiguidade do programa é legitimada. (ANDRADE,
2005)

Além disso, há uma contradição, as Vilas Rurais hoje são consideradas urbanas, tendo

que pagar Imposto sobre a Propriedade Territorial Urbana (IPTU), isto decorre do

repasse de responsabilidade do Governo do Estado para o Município.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tanto a atividade empírica, quanto a pesquisa de gabinete, nos proporcionou uma visão

mais crítica e detalhada sobre esta política pública, Programa Vilas Rurais, que ocorreu

no estado do Paraná e atendeu 273 dos 399 municípios paranaenses, com 412 vilas

rurais implantadas em todas as regiões do estado, abrigando mais de 80.000 pessoas.

Assim o Programa cumpriu parte do seu objetivo inicial, o de fixar no campo a

população que um dia migrou e estava vivendo em condições precárias nas cidades,

sendo coadjuvantes da sociedade. Entretanto, o objetivo de proporcionar melhores

condições de vida para os trabalhadores volantes não foi efetivado com êxito. Isto pode

ser visto na Vila Rural Octávio de Campos Lima, não há transporte público que atinge

toda população, ou mesmo que ofereça um deslocamento seguro até a sede do

município; nem há uma Unidade Básica de Saúde ou visitas relugares de equipe médica

às famílias, principalmente aquelas que têm idosos; há ausência de escola próxima a

área rural. Também não foram cumpridas as medidas propostas pelo Programa, o de

disponibilizar saneamento básico e auxílio técnico agrícola aos produtores.

Os requisitos necessários para a contemplação do lote foram respeitados na implantação

da Vila Octávio de Campos Lima. Entretanto, atualmente os “vileiros” desenvolvem

atividades de caráter temporário ou assalariado, as mulheres desenvolvem o trabalho

feminino fora da Vila, pois apenas a produção no lote, não garante o sustendo da

família, é preciso buscar alternativas de renda.

É necessário repensar o cenário atual em que as Vilas Rurais estão inseridas, pois este

caso estudado, que certamente não é exceção, sofre com o abandono por parte do

Governo Estadual e assim como da Prefeitura Municipal. Proporcionar habitação e um

pedaço de terra, não é o suficiente para que uma população se desenvolva dignamente.

Além da infraestrutura básica, é necessário apoio técnico para desenvolver e ampliar a

produtividade, para que estes “vileiros” estejam preparados para competir no mercado.

REFERÊNCIAS

ANDRADE, Aurea Andrade Viana de. Vilas Rurais da Microrregião Geográfica de
Campo Mourão. 2005. Dissertação (Mestrado) - Departamento de Geografia, Centro
de Ciências Humanas, UEM, Maringá.

ASARI, Alice Yatiyo; PONTE, Karina Furini da. Programa Vilas Rurais: retorno do
trabalhador rural ao campo? Geografia. Revista do Departamento de Geociências,
UEL, Londrina, v.10, n.2, jul/dez 2001, pp. 163-173.

BANA, Luiza. Vilas Rurais no Processo de Transformação do Espaço Rural no
Município de Paranavaí. 2001. Dissertação (Mestrado) - Desenvolvimento Regional e
Planejamento Ambiental, UNESP, Presidente Prudente.

CAVALCANTI, Afonso de Sousa. As Vilas Rurais Do Paraná: Experiência em
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Tamarana
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